terça-feira, 8 de março de 2011

Matumbina dispois di um dia di sol na praia dos Carcavelo

Hoje estou aqui para eternizar um momento que já não acontecia há quase 10 anos. 

Não tenho por hábito (querer) vestir uma personagem que não a minha, mas tenho que confessar que, secretamente, todos os anos penso em como seria engraçado e simultaneamente rejuvenescedor, por breves horas que fossem, despir a minha rotina e fingir ser uma pessoa completamente diferente. Não teria de vestir a pele de uma rainha, de uma guerreira, nem tão pouco de uma religiosa. Também não procuraria a fama, nem o reconhecimento, nem mesmo a riqueza. Nada disso. Gostaria apenas de ser, por um dia, diferente! Por isso mesmo decidi fantasiar-me este Carnaval.

A escolha da indumentária foi um processo difícil. Sem qualquer ideia e à bom português, deixei para o último momento a aquisição da personagem. Gostava muito de me mascarar de recibo verde, mas nunca tive muito jeito para os trabalhos manuais, por isso decidimos optar por um disfarce igual para todos. Porém, encontrar o macacão revelou-se numa tarefa impossível para mim, pelo que a fantasia de mineiro chileno ficou de lado. Decidi então ir a uma daquelas megalojas asiáticas que vendem de tudo a preços baixíssimos (ostentando um nome português para disfarçar a origem e evitar o preconceito). E quando digo “de tudo”, quero mesmo dizer “de tudo”: entre flores artificiais, candeeiros, champôs, brinquedos, velas perfumadas, batatas fritas e casacos de pele, encontrei uma secção completamente dedicada à causa carnavalesca. Só teria de optar entre comprar a fatiota completa ou levar os adereços combinados por mim. Como seria de esperar, pelo adiantar da hora e pelos preços praticados, só havia tamanhos XXS disponíveis. Além disso, uma polícia de mini-saia, uma odalisca coberta com lenços transparentes ou uma freira a exibir uma liga de renda encarnada não se compadeciam com os meus objectivos de “gaija digna”, nem com as temperaturas que se esperavam. Então passei à combinação de várias peças.

Pode-se dizer que estava lá instalada a autêntica “Casa dos Horrores”. Máscaras com cabelo verdadeiramente assombrosas não faltavam, assim como membros decepados, facas com simulação de sangue ainda a escorrer, insectos de plástico, dentaduras de vampiro e feridas falsas. Mas o que mais me impressionou nesta exibição de artigos, que mais pareciam ser para a noite das Bruxas, foi a homenagem ao defunto Michael Jackson. Mesmo ao lado do Frankenstein estavam duas filas de máscaras daquele que foi o “Rei da Pop”. Um pouco mais à frente e junto a uns pés podres estavam perucas iguais aos vários penteados que a estrela usou ao longo da sua carreira. Mas esta fixação mórbida não ficou por aqui. Óculos de sol, luvas, chapéus e fatos completos em vários modelos, tamanhos e cores (é preciso dizer que o mais caro que vi pertencia à vedeta finada). Não sei se este fenómeno é recorrente de anos anteriores, mas fiquei absolutamente maravilhada com o fascínio que este senhor desperta nas pessoas numa altura destas! Terá alguma coisa que ver com o videoclip "Thriller"?

Mas voltando aos disfarces, como estas máscaras são insuportavelmente quentes e como mal se respira ali dentro, tive de pôr toda a devoção (?!) por este senhor de lado e lá levei só uma carapinha preta (que agora que penso nisso podia bem ser daquele cantor, mas na altura dos Jackson 5) e mais 2 ou 3 acessórios que não deixassem este dia "em branco", por menos de 8€. Que fartote!

De volta a casa e na busca de uma inspiração divina, fui ver os meus e-mails. E é então que as minhas vistinhas dão de caras com esta aparição, esta dádiva da natureza. Sem mais demora, depois de umas pecitas de roupa adequadas à figura que pretendia imitar e de meio quilo de maquilhagem para afugentar este meu tom de pele mais adequado a uma personagem da Família Adams, lá fomos todos para a festa. Mas é importante realçar que esta produção só esteve em exibição total algumas vezes porque na loja não vendiam “coragem” nem “atrevimento”. De maneira que “No Carnaval ninguém leva a mal” mas a minha máscara não estava assim tão irreconhecível ao ponto de poder ser uma “Matumbina-dispois-di-um-dia-di-sol-na-praia-dos-Carcavelo” durante uma noite inteira e à vista de qualquer um. Só foi pena ter posto tanto creme auto-bronzeador no corpo e de não ter chegado para a cara e para as mãos, porque de resto, a Matumbina até nem estava nada mal! E o pormenor da sobrancelha à Frida Kahlo, hein? Para mim foi o toque de charme final, não acham?

Quer dizer… Não podem achar nada porque não estiveram lá, não é? Esta fotografia? Qual fotografia? :S Ora… Esta fotografia… Obviamente que não é minha… Hummm… Foi uma rapariga que passou por mim e… como achei engraçada, captei em momento Kodak. Então havia lá de ser eu nesta foto… Que disparate! Ia mesmo expor-me desta maneira, não? :S

Mas gostei muito desta noite, sim senhora! Entre os disfarces que passaram por mim e que mais me chamaram a atenção, destaco aqui as personagens da “Alice no País das Maravilhas”, com maquilhagens dignas dos filmes do Tim Burton. Assim é que eu gostava de passar o Carnaval e tenho a certeza que não ia haver vergonha nenhuma que se apossasse de mim nessa noite. Também gostei muito de um Shrek que vi logo no início da noite, com uma produção fantástica, de um exército de romanos que mais parecia terem ido roubar o guarda-roupa a um museu e, claro, do meu quarteto fantástico matumbinó-tiburciano e dos meus amigos mineiros chilenos (que passaram um mau bocado quando uma transeunte chilena se cruzou nos seus caminhos e reconheceu a bandeira que traziam às costas, qual capa de um super-heroi, sobre o macacão, o arnês, o filtro e o capacete, sem esquecer a lanterna). Para trás ficaram os conjuntos de cartas e de dominós, as chinesas e as indianas, as loiras burras e os burros loiros, os travestis assumidos e os “machos” que aguardaram ansiosamente por este dia para trazerem à tona a mulher que têm dentro de si. E o auge da festarola surgiu quando a rua foi invadida por uma corrente de tambores, megafones, tubas e trombones e por uma enchente de gente infectada por uma alegria contagiante a dançar, a cantar, a pular e a arrastar consigo mais povo, e mais alegria e mais Carnaval. 

É pena a idade não dar para mais e para ter visto mais coisas e para contar aqui tudo isso porque, como a minha metade boa disse, havia muito tempo que não me via assim tão entusiasmada! 


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