quinta-feira, 19 de julho de 2012

Mulher é um "bicho" difícil...

Finalmente este fim-de-semana recuperei algumas gotinhas de inspiração para escrever aqui no blogue e como a inspiração é como um recipiente sob pressão há algum tempo, que foi abanado, aviso já que hoje isto vai ser longo!

O motivo foi o casamento de uma grande amiga. Mas não é sobre este evento que vou falar, isso ficará para outras núpcias, mas sim sobre os preparativos que foram verdadeiramente dramáticos – os meus, entenda-se, porque os dos noivos correram lindamente.

Parte I – o vestido

Como é habitual, e ainda que tenha reservada no armário uma série de vestidos de cerimónia, tive que acrescentar mais um à colecção porque não tinha um único exemplar que estivesse à altura do acontecimento. À altura e à largura porque, de há uns anos a esta parte, o meu armário tem sido o ecossistema perfeito para alojar umas criaturas (inventadas pelo diabo), que se alimentam da minha roupa fazendo com que deixe de me servir - o seu nome é “calorias” e os hospedeiros que as conduzem até esse local são a coca-cola e as batatas fritas. Outro dos motivos, com ainda mais peso, é a regra nº1 das mulheres no que concerne a cerimónias: nunca repetir a indumentária quando esse vestido já foi visto por alguém, nem que esse alguém tenha sido o cozinheiro que nunca aparece na sala e ainda que nós nunca reparemos no que os outros levam vestido, sendo incapazes de reconhecer alguma peça repetida. Depois de quase ter "atirado a toalha ao chão" por não encontrar nada com a relação qualidade/preço desejada, lá perdi o amor a uma quantia de dinheiro ligeiramente pornográfica para adquirir um vestido que não sei se poderá alguma vez ser reutilizado. Mas quando o desespero impera...

Parte II - acessórios

Ainda assim, quando pensava que o meu drama tinha acabado no vestido, lembrei-me que o dito cujo tinha uma aplicação cheia de brilhantes com a qual não ia muito à missa, mas para o qual não conseguia encontrar um substituto digno. Além disso era preciso encontrar a bela da pochette (cujo reduzido tamanho que a caracteriza me obriga sempre a deixar o telemóvel no carro) e os  restantes acessórios - e parecia que nada ficava bem..

Parte III - sapatos

Depois de correr tudo quanto era loja da especialidade e de, finalmente, assumir que ia manter o aplique (cuja exuberância me resolvia o problema dos acessórios, dado que dispensava outros grandes atractivos), foram os sapatos que, apesar de ficarem bem, já tinham perdido alguns brilhantes, apresentando-se um pouco desdentados. Mas, que se lixe, o vestido é comprido e ninguém vai andar de gatas (espero eu), com um lupa, a contar os minúsculos vidrinhos.

Parte I b) - o vestido outra vez

Resolvidos os problemas anteriores, e não satisfeita, eis que ressurge o grande drama: o vestido, que tinha ficado na loja para apertar e para lavar, a 2 dias da cerimónia continuava por lavar e por apertar. Só me restava pedir muito ao meu Jesus para dar juízo às senhoras daquela loja e tempo, muito tempo para se dedicarem a porem o vestido pronto no Sábado!

Parte IV - o cabelo

Ainda que na véspera do casamento tenha ido ao cabeleireiro dar um jeito para um baptizado (sim, a minha vida social é muito rica - ao contrário da minha conta bancária, que fica vazia nestas ocasiões), era preciso repetir o ritual no dia seguinte. 

Então no sábado tinha um baptizado às 16h - e eram 12h, tinha acabado de ir buscar o vestido (mais ou menos apertado e mais ou menos lavado) e continuava à procura de uns trapitos para levar vestidos, com cabeleireiro marcado para as 13h30. O vestidinho preto impecável que entretanto comprei combinava muitíssimo bem com umas "andas" de cetim preto que lá tinha em casa. Como não tenho carta de condução para aquela categoria de veículos, e dado o tardar da hora, comecei a suspeitar que poderia vir a ter um acidente grave no meio daquele turbilhão de coisas para fazer. Foi quando, a segundos de sair, resolvi que "fixe, fixe" era dar com a cabeça, em velocidade máxima, na orla da porta - e o meu pensamento instantâneo foi "já não me bastava estar suficientemente atrasada para agora ter que ir ao hospital levar pontos". Safei-me das suturas, mas não de um hematoma massivo na testa que me obrigou a ir de saco de gelo para o cabeleireiro e a contratar também para o dia seguinte uma maquilhadora profissional - o que nos leva para a parte V.

Parte V - a maquilhagem

too much bad makeup 9 Makeup applied in the dark (22 photos)
Depois de uma noite a "dormir a correr" o despertador deu a alvorada às 07h e entre tropeções e remelas, lá me arrastei para o "Photoshop a 3D" - o cabeleireiro. Não fazia a mínima ideia do que iria sair do pincel da artista, mas estava filada que, como era a 1ª vez que a minha cara seria a sua tela, a paleta de cores iria ser humilde e regrada. Felizmente a nódoa negra não tinha chegado a surgir, pelo que, se levasse o penteado certo e se conseguisse evitar um determinado ângulo com o sol, talvez não se visse a proeminência colossal que tinha acoplada à minha testa - evidentemente que isto não aconteceu, mas talvez por falta de atenção (ou pena, ou excesso de álcool) ninguém reparou. Quando finalmente a obra termina, a maquilhadora começa a mexer no meu cabelo ainda molhado (como quando tentamos dar um jeito a um ramo de flores irremediavelmente mal arranjado) e diz "Vá ao espelho ver se gosta... Esta é uma maquilhagem bastante arrojada, mas vai ver que quando tiver o cabelo arranjado vai ficar o máximo". Temi pelo que ia encontrar do outro lado do espelho e comecei a preparar o discurso certo para a motivar para uma nova obra de arte, não tão "artística". Olhei para o meu reflexo, mas face ao estado de choque em que fiquei, as únicas palavras que me saíram foram "Isto... está... mesmo... artístico...". E foi aí que comecei também eu a mexer no cabelo a ver se a coisa remediava... E não remediou. Não é que estivesse feio, nada disso, apenas a probabilidade de encandear alguém com aquela sombra seria muito grande.

Parte VI - o cabelo outra vez

Quando me sentei na cadeira da cabeleireira, recebi por correio expresso as suas vibrações preocupadas, assim como uma expressão de quem tem uma empreitada faraónica pela frente: o que dali saísse ou ia arruinar tudo ou ia fazer estrelar o conjunto total. Como seria de esperar, não gostei do penteado e tanta arte, tanta inspiração e saí de lá a pensar "Meu Deus, onde estás tu quando mais preciso de ti?", mas rapidamente meti a mudança do espírito positivo e foquei-me neste pensamento "pelo menos não se nota o galo que está empoleirado na minha testa". Uma vantagem teve este photoshop todo: quando cheguei a casa e fui acordar o maridão ele acordou num instante!

Parte final - o conjunto completo

Entre uma testa amassada, uma maquilhagem que estaria à altura da sinalização de emergência de um edifício, uma penteado que parecia ter sido feito por uma criança de 2 anos e uma indumentária que já tinha passado as passas do Algarve, não é que o conjunto ficou muitíssimo bem? "Não negue à partida uma ciência que desconhece", já dizia a nossa querida amiga Maya...

Enfim! Com o complicómetro ligado no seu máximo nível (que de resto já é um habitué por aqui), melhor ou pior lá consegui resolver todas estas questões - como sempre!

Ai, como gostava eu de ser homem nestas alturas e ter como única preocupação engraxar os sapatos!!!