quarta-feira, 20 de março de 2013

Mom to be - Parte II

(sequela do Mom to be - Parte I, publicado em 12 de Abril de 2012)

Há um dia em que acordas e pensas: "tenho um maridão 5 estrelas, um emprego estável (mais ou menos, dada a conjuntura), uma casa minimamente confortável, faço férias com uma regularidade que me permite manter a minha sanidade mental, tenho alguns passatempos, mas… Falta alguma coisa!". E toda a gente responde a isto: “precisas é de ter um filho!”. Mas será que é mesmo isso que faz falta?

Passamos uma vida inteira atormentadas pelos relatos dos partos naturais da nossas tias, avós e mães, acompanhados por dores lancinantes, horas infinitas em trabalho de parto e intermináveis cortes e suturas. Mais as noites mal dormidas, as mamas doridas, os cabelos vomitados e os terríveis desequilíbrios hormonais. E de cada vez que alguém fala nisso, pensas: “mas é mesmo disso que eu preciso?”. E num instantinho voltas à realidade confortável, satisfeita por poderes ir ao ginásio depois do trabalho (mesmo que não vás), por conseguires manter as unhas impecavelmente arranjadas e impecavelmente grandes, por poderes dormir até ao meio-dia aos fins-de-semana e por não teres que andar com o cabelo amarrado 25 horas por dia. E agradeces por teres resistido a esse rasgo de insanidade que quase te fez perder a tua independência.

Depois começas a notar comportamentos realmente bizarros nas tuas amigas e, num instante, aquilo que pareciam ser estranhos rituais alimentares, materializam-se num pequeno papel onde a novidade é dada: vem aí um bebé! Entras em delírio absoluto. A primeira gravidez do grupo é acompanhada segundo a segundo, como se da tua se tratasse, e entras em taquicardia no momento do parto, quase como se, por solidariedade com a tua amiga, estivesses também tu a sentir as contracções. Mas ainda não é aí que o clique se dá para desatares a procriar.

Dali a pouco tempo vem mais um papelinho e, com ele, mais um bebé! E outro, e mais outro. A páginas tantas parece que a tua vida está repleta de mulheres grávidas e de crianças a nascer. Não há um dia em que abras o teu facebook que não vejas mais uma fotografia de uma criança acabadinha de vir ao mundo nem pedidos de adesão a páginas de puericultura. E continuas a achar imensa piada, por ser aos outros que está a acontecer, e não a ti, que ainda não te sentes preparada, madura, nem com o "chamamento". E cada vez mais te dás por satisfeita com a vida organizada e autónoma que levas.

Tudo isto até ao dia em que entras num consultório médico, depois de uma visita que já devia ter chegado e que nunca mais vem, analisam o teu útero vazio e te dizem: "hummm... se calhar vai precisar de umas pastilhinhas para resolver aqui uma situação...". E é aqui que o teu mundinho planeado, resolvido e feliz sofre um pequeno abalo sísmico de 7,3 na escala de Richter. "Espera aí! Afinal isto não funciona quando queremos, tipo interruptor?". Sentes que afinal de contas não tens grande controlo sobre a tua vida e que nunca deverias ter feito planeamentos sem margem para decalages. Esperas por chegar a casa para falar com o maridão, mas na pequena viagem de 15 minutos que fazes, sentes as tuas prioridades a mudarem rapidamente de posição. Deixas de te lembrar das histórias dos partos horrorosos e só te vêm à cabeça os dramas de quem passou anos à procura de herdeiros genéticos. Fazes duas ou três contas de cabeça e percebes que o teu pico de fertilidade já passou há muito e que estás quase nos 30! E decidem em conjunto, sem grandes dramatismos (até porque o prognóstico não era assim tão negro), que se calhar não é pior ideia começarem a por pés a caminho naquela que será a "Grande Viagem".

Mas como estas coisas não acontecem sempre que queremos, principalmente a quem tem problemas desta natureza, assumes um compromisso contigo própria de não "panicar" sempre que receberes a visita da dama de vermelho. E isso até é bom, porque a passagem do "não-chamamento" para o "clique" foi demasiado brusca e precisas de te habituar à ideia de que a tua vida vai mudar para sempre!

Passa um mês e nenhuma novidade... Respiras de alívio porque achavas muito cedo se acontecesse. Passa outro e continuas igual. Mas quando, ao fim de 4 meses, a Sra. de Vermelho se esquece de te avisar que vai ter que fazer um desvio para comprar pão e que vai chegar 2 semanas mais tarde do que o previsto, começas a imaginar tudo, desde a forma como vais esconder a notícia dos teus amigos que foram contigo de férias nesse dia, ao infantário, até ao escorrega que vais pôr no terraço. E depois de uma noite mal dormida com a ansiedade,  fazes o 1º teste de gravidez a querer que o resultado seja positivo e... dá negativo.

Dois pares de meses mais tarde e sempre sem quebrar a promessa, começas a pensar se serás normal e precisas de fazer algum esforço para não te diminuíres e para acreditares naquilo que a médica te diz: "até um ano de treinos, é absolutamente normal". Não ajudam as dezenas de comentários que tens que ouvir sobre já estar na hora, os olhares cirúrgicos que fazem à tua barriga sempre que chegas a casa de alguém, mas também chegas a um ponto em que ligas à Terra. Cumpres com o teu compromisso e não entras em parafuso sempre que abres a porta à "Lady in Red", apesar de perceberes que, se ela tivesse decidido ir cantar para outra freguesia, estavas mais do que preparada psicologicamente para a "Grande Viagem".

Alguém próximo de ti te diz que 2013 será o ano e desejas secretamente que no primeiro dia 13 do ano recebas essa novidade, até porque, para não variar, a Maria Encarnada deve ter perdido o autocarro e está, novamente, atrasada! Mas dia 13 o Benfica joga contra o Porto (sem qualquer alegoria ao fenómeno biológico feminino) e tens a casa cheia de pais e de sogros benfiquistas que eliminam qualquer possibilidade de momento a dois. Lembras-te de uns boxers que viste numa montra, adequados a futuros papás, e pensas: "que bom que era poder oferecer isto ao maridão!".

Até que, no dia seguinte à hora do almoço, imbuída de um pressentimento estranhamente real, decides passar no supermercado e comprar um teste! Entre o prato principal e a sobremesa vais ver o resultado e concluis, incrédula: "tenho mesmo que passar na loja de roupa interior!".


O resto da história, já toda a gente sabe! Entras em êxtase e nem sabes como vais conseguir ir trabalhar sem que ninguém perceba que é o dia mais feliz da tua via. Aguentas-te até à noite para dar a notícia ao maridão, agora Super-Papá. Ele, que não estava a contar nada com este final de tarde, entra primeiro em choque, depois em lágrimas e depois em euforia! Apetece-vos contar ao Mundo, mas só revelam o segredo ao empregado de mesa porque, a partir de agora, és tu que vais adoptar todos aqueles comportamentos alimentares estranhos. Imaginas o pequeno ser que cresce dentro de ti e só consegues imaginar o dia em que o vais ter nos braços! Desejas os cabelos vomitados, as unhas rentes e o cheirinho da pele do teu bebé que exala através da sua cabecinha!

E depois não tens enjoo nenhum, muito pelo contrário: sentes a bicha solitária à solta e só te apetece comer. Ainda assim, não tens qualquer pudor (ainda que a tua médica te proiba terminantemente de engordar mais do que 12 quilos) e não vês o momento de mostrar a tua barriga à Humanidade e de dizer bem alto:

(ver imagem da publicação Mom to be - Parte I e comparar)