quinta-feira, 18 de abril de 2013

Mom to Be - Parte III

(sequela do Mom to be - parte II, publicado em 20 de Março de 2013)

Fazes xixi para um pauzinho, recebes a notícia tão esperada, mas não acreditas e resolves repetir... DUAS VEZES. Mesmo assim, continuas desconfiada e, na ausência de sintomas, ponderas seriamente uma gravidez histérica. Mas, depois do mundo saber a novidade (e de ter acalmado também), de começares a devorar livros da especialidade e de veres a tua descendência desenhada a duas dimensões num ecrã monocromático, começas finalmente a acreditar que estás grávida. É que não ter enjoos, nem tonturas, nem um sono desmedido às duas da tarde, faz-te duvidar muitas vezes se estás ou não a gerar uma criança no teu ventre… Não fosse aquela fome que te faz parar de pensar, te põe ceguinha e obriga os teus amigos a irem contigo ao McDonalds às 3h30 da manhã e quase que ias fazendo o 4º teste de gravidez. Mas agora que estás finamente mentalizada que a tua vida vai mudar para sempre, começas a sentir algo de novo e surpreendentemente arrebatador. E não, não estou a falar (só) dos gases. Seguem-se comportamentos estranhos, mistos de loucura e de sanidade, confusos aos olhos do comum mortal, mas familiares a qualquer mamã:
  • Para começar, vais de 5 em 5 minutos ao espelho ver se a tua barriga cresceu, se esconde o teu pneumático de estimação e se, finalmente, mostras à humanidade o quão orgulhosa estás pelo teu novo estado de graça – mas depois reconheces que talvez (só talvez) às 7 semanas ainda seja um bocadinho (só um bocadinho) cedo de mais para estas paranóias;
  • Entras numa loja para experimentar aquelas calças pré-mamã fantásticas e hiper-confortáveis, mas tens o bom senso de recuar, já que a cinta elástica que irá abraçar uma barriga proeminente cai como se estivesses untada com óleo a tentar trepar a um poste de electricidade;
  • E, quando finalmente te começas a parecer com uma viatura monovolume (50% porque o teu filho está a crescer, 50% porque descobriste o verdadeiro significado da palavra fome), resolves fazer uma arrumação ao teu guarda-roupa – entre peças que não vais vestir nos próximos meses e as que, por muito que queiras, nunca mais vais vestir (mas que te recusavas a livrar-te delas), sobram-te meia dúzia de trapitos que só vais poder vestir quando o S. Pedro parar de despejar os penicos e acender a lareira;
  • Vais para a fila do supermercado reservada a grávidas, mas não tens coragem de reclamar o teu direito porque achas que ainda não precisas dessas benesses – mas dás por ti a abrir subtilmente o casaco, a afastar o lenço para os lados e a empinar a minúscula barriga para a frente – e quando alguém o reconhece fazes aquele ar surpreendido e contas a toda a gente que a tua barriga já não passa despercebida;
  • Não, tu não és como as outras grávidas cujas hormonas despoletam uma segunda personalidade (e terceira, e às vezes uma quarta bem dissimulada) - o teu marido é que resolveu, depois que soube que estás neste estado de "graça", "desgraçar-te" o juízo;
  • E juntamente com a tua, também a personalidade de alguns dos teus órgãos se altera ou multiplica; por exemplo, não tens enjoos, mas se te arriscas a demorar mais do que as três horas (ou menos) para fazeres uma nova refeição, o teu estômago zanga-se contigo, amua e recusa o que depois lhe tentares impingir, sobretudo líquidos - e nem sequer te faz um aviso prévio para teres tempo de chegar à casa de banho, só para aprenderes;
  • A tua bexiga também resolve partilhar este distúrbio e passas a ser a melhor cliente da tua marca de papel higiénico e do serviço de abastecimento de água do teu concelho; gastas as solas dos sapatos de tantas vezes que vais à casa de banho, onde metade das quais só libertas 5ml, fruto das partidas que este órgão teima em pregar-te; de noite já ligas o piloto automático para ires à casas de banho e perdes a noção das vezes que lá foste; começas a pensar se tens a canalização furada já que não aguentas 5 minutos depois de beberes um copo de água;
  • Mas não ficamos só pela bexiga e pelo estômago porque quando achas que tens esta situação resolvida, e dizes a plenos pulmões que desde que estás grávida, não se passa nada contigo (só porque não tens enjoos), mudas a medicação, tomas mais ferro e paras no trânsito com um congestionamento na tripa (obstipação, para os mais polidos de discurso) - passas horas sentada na sanita, sabes de cor o número de azulejos que a tua casa de banho tem e chegas finalmente ao último nível daquele jogo de telemóvel que descarregaste há mais de um ano;
  • Não tens preferência por menino ou menina, mas praticamente toda a gente (que tem vergonha de te chamar gorda) te diz que pela forma arredondada da tua barriga, da tua anca e da tua cara (enfim... de todas as tuas formas) só pode ser uma menina - e tu ficas toda contente com esta sabedoria anti-científica, já que afinal o teu pneumático de estimação, na verdade, não é gordura, mas sim a tua filha a crescer dentro dele, mesmo que seja para as laterais;
  • Vais fazendo ecografias todos os meses, mas o teu bebé, que é digno como a mãe, cruza bem as perninhas e não conta ao mundo se vai fazer xixi de pé ou sentado - até ao dia em que, por breves segundos e só à vista dos olhos experientes da tua médica, mostra que todos os amigos da tua mãe que já têm um filho rapaz, se poderão vingar de todos os disparates que a tua metade boa lhes foi ensinando, desde que nasceram.


 
Apesar de estares à espera que a médica te dissesse que era uma menina, naquele momento descobres que era mesmo um menino que querias e, apesar do S. Pedro continuar a despejar os penicos, o teu dia ilumina-se de uma forma que nunca serias capaz de imaginar!

Claro que alguém que fez três testes de gravidez não vai desatar a comprar babygrows azuis, nem a pintar já o quarto todo daquela cor, sem antes fazer mais uma ecografia na médica e a morfológica às 20 semanas (pelo menos). De qualquer modo, já sonhas com o teu rapaz a começar a dar os primeiros pontapés numa bola do benfica à rebelia da mãe e a contar-te que tem três namoradas lá no infantário, ainda que nenhuma delas saiba disso.